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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Jovens entrevistam Marli Medeiros no CRAS Norte

Como etapa do Projeto Pedagógico "A Arte no Meio Ambiente: do Lixo ao Luxo", os jovens resolveram elaborar uma série de perguntas para entrevistar a líder comunitária e dirigente do CEA (Centro de Educação Ambiental) Marli Medeiros. Marli é autoridade em reciclagem e consciência ambiental. Sua entidade consta do Centro de Triagem da Vila Pinto (CTVP), o Centro Cultural James Kulisz (CEJAK) e a Creche Vovó Belinha.
Veja abaixo a transcrição feita por Tatiane Tomazzoni:

COMO A SENHORA INICIOU A ATIVIDADE DE RECICLAGEM?
Após vir morar na Vila Pinto e tentar convencer todas as mulheres que não deveriam trabalhar com o trafico de drogas e crimes em geral, chegou uma hora em que as mulheres me perguntaram qual seria a possibilidade de trabalho que não fosse o tráfico ou o crime. Com o meu crescimento fui passando para líder feminina regional, estadual e continental. E com isto o prefeito viu a necessidade de retirar o tráfico de drogas da região da Vila Pinto, colocando infraestrutura dentro da região e com isto criando uma grande inimizade com os traficantes da região. Eu acabei vivendo escondida durante quatro meses, a minha filha sofreu inclusive lesões corporais e isso me fez pensar muito nas minhas atitudes, pois sempre tive boa intenção e inclusive pensei em desistir de tudo isso, uma vez que uma agressão tinha sido feita à ela (a filha). Hoje em dia a Ana Paula (filha) é coordenadora do Centro de Triagem. Ela demorou muito tempo para se recuperar, voltar a estudar, e se estabelecer com a prótese ocular, fazendo de sua vida um grande exemplo. É um grande orgulho para mim e uma das grandes causas pelas quais eu trabalho com isto até hoje.

A SENHORA ACHA ENTÃO QUE O SEU TRABALHO FOI UM MARCO PARA INTERROMPER O TRAFICO?
Sim, com certeza foi um marco. Os homens traficantes não estavam esperando e nem estão acostumados com uma liderança destas. Temos uma formalidade muito grande com a convivência dentro da vila e os próprios me respeitam muito. Principalmente com a veiculação do Globo Repórter. Apesar de que tem muitos que obedecem a pai e mãe, muitos educam muito bem seus filhos, tentando lhes deixar um legado melhor do que os deles mesmos.  O trabalho em geral foi um marco não somente para o tráfico. Quantas vezes se abre o jornal e se vê noticias de roubos, mortes e assaltos em geral... Não somente com o tráfico houve mudanças, mas na comunidade em geral. Todo mundo cuida de todo mundo. Cuidando desde coisas simples como a estrutura do local que utilizam.

COMO  SENHORA FAZ PARA ADMINISTRAR TODO ESSE PROJETO
Eu não trabalho sozinha: hoje em dia somos todos uma equipe com a maioria formada em nível superior. Muitas coordenações, em diversas áreas. Cada um responsável por um setor separadamente. Chega ser covardia dizer que eu coordeno sozinha, pois sempre existe uma coordenação em cada local.

COMO QUE A SENHORA ACHAVA QUE IA DAR TAO CERTO ANTES MESMO DE INICIAR TUDO?
O projeto foi escrito, e me reuni com diversas pessoas, desde as lideranças femininas e sempre me reuni com muitas pessoas; passo minha idéia e as pessoas envolvidas passam isso adiante. Eu tive isto durante toda a vida, leio o Estatuto e vejo que estou cumprindo tudo o que foi escrito há mais de 20 anos atrás. Hoje em dia se trabalha sempre querendo que as coisas dêem certo e acredito que quando nos aproximamos de pessoas do bem as coisas dão certo. Eu sempre quis uma vila diferente para as minhas filhas e com isso automaticamente acabei melhorando uma vila para muitas pessoas. Acabei trabalhando para toda a comunidade e não somente para as minhas filhas. Um vez em Mar Del Prata, acabei ouvindo uma idéia de como se alimentar do lixo -não necessariamente comer o lixo - mas utilizar o lixo para produzir dinheiro. Eu quis fazer a diferença. Com certeza não vou resolver todos os problemas da comunidade, mas alguma coisa eu vou fazer: o que estiver ao meu alcance. Não vou ficar apenas deixando as coisas passarem e não fazer nada. E pensando no trabalho em equipe hoje em dia no Cejak eu tenho muitas pessoas me auxiliando, e querendo fazer as coisas melhorarem e mudar, e com isso certamente se vai para frente. Este trabalho eu não faço para ganhar dinheiro, porque hoje em dia com o meu conhecimento dentro da cidade eu poderia perfeitamente trabalhar em um gabinete de vereador ganhando muito mais do que eu ganho atualmente.

A SENHORA JÁ VEIO PARA PORTO ALEGRE COM A IDÉIA DE FAZER TUDO O QUE FEZ?
Na minha vida toda sempre fui buscando coisas melhores. Já fui faxineira, sempre procurei emprego qualquer que fosse. Com a minha filha mais velha já nascida, acabei procurando algo que me sustentasse. Me ofereceram um trabalho de copeira ou de cuidar cachorro. Acabei ficando famosa dentro da cidade como a mulher que saía de casa com a “Laica” (cachorra do médico). Passeava com a Laica, dava água, sentava na praça esperando o horário de voltar para casa. Laica era uma cachorra como se fosse filha do casal, e eu recebia muito bem para cuidar dela. Um dia eu estava sentada na praça e apareceu um parente dos Fagundes e me perguntou o que eu fazia na praça. Me contando que estava chegando um banco em Alegrete e com isso me convidou para trabalhar no Bradesco, servindo café.  Um banco novo, que estava surgindo na cidade do Alegrete. O que eu fazia? Fazia o melhor café que eu podia e sempre me comunicando com os chefes, sempre prestando atenção nas suas preferências, agradando a todos e prestando atenção. Com isso acabou sendo muito requisitada. Com isso comecei a me infiltrar e aprender com um colega Danilo, como se fazia as fichas e como fazer o trabalho dele. Um dia o Danilo não pode aparecer e com isso acabei trabalhando no lugar do Danilo. O gerente lhe deu a oportunidade de acertar todas as fichas, e com isso iria lhe promover de posto. No dia seguinte acabei virando bancária. Eu sempre fui comunicativa, analisando as pessoas, em todos os detalhes, acabei fazendo amizades e amizades, ate que um dia falei-lhes que tinha o sonho de vir morar em porto alegre.
Quando um dia o médico me contou que estava doente e viria morar em Porto Alegre e me deu uma oportunidade de ser porteira de um prédio aqui em porto alegre.
Com isso acabei pedindo as contas no banco, e me mudei para Porto Alegre. Meu marido era porteiro do prédio, e eu faxineira no bairro Bom Fim.
No inicio muitas mudanças, as pessoas não se cumprimentavam, não se falavam, e acabei conquistando todas as pessoas. Com isso acabei conhecendo uma engenheira da Caixa Econômica Federal que estava construindo as casas da Vila Pinto. Fui para a vila pinto em 1976.

EU GOSTARIA DE SABER SE A SENHORA SE ARREPENDE DE ALGO QUE AINDA NÃO REALIZOU NO CEJAK.
Tudo eu queria fazer eu ainda quero e ainda vou conseguir.

COMO A SENHORA SE VÊ HOJE?
Eu me vejo hoje como uma pessoa que pode dar conselhos principalmente de caminhos que devem ou não ser seguidos. Quisera eu com dezesseis anos tivesse alguém para me dar estes tipos de conselhos.

QUEM MAIS LHE APOIOU NESSE PROJETO TODO?
Minha família.

PORQUE A SENHORA ESCOLHEU ESSA PROFISSAO?
Eu não escolhi essa profissão, eu queria cantar, era meu sonho. Mas eu vi que naquele momento as mulheres acabaram me abrindo os olhos e vi que tudo aquilo que eu havia planejado eu tinha que colocar em prática (era a minha meta) e para isso tive que fazer uma curva. E com isso fui aprender o que era o lixão, o que se produzia, coloquei um lixo no saco e fiquei com o saco guardado durante 10 dias para ver o que acontecia, depois 20 dias para ver o que acontecia. Hoje em dia sou uma ambientalista. Sou uma médica do planeta; eu vejo o que está acontecendo no planeta.

QUANDO A SENHORA TEVE A IDÉIA DE CRIAR O CEJAK?
Na verdade a gente criou um galpão de reciclagem primeiro, as mulheres foram trabalhar e nisso eu consegui uma parceria com o SESI e as mulheres ganharam cesta- básica para aprender o trabalho.  Mas as mesmas mulheres acabaram se preocupando porque os seus filhos estavam vulneráveis ao trafico. Com um prêmio em dinheiro acabamos pensando na ideia de fazer um local para abrigar os filhos destas mulheres. Um espaço onde os filhos das mulheres passariam os dias enquanto suas mães estavam trabalhando. Na época a Beatriz Kulisz trabalhava no gabinete do prefeito da cidade e o seu cunhado acabou lhe ajudando na construção da obra, conseguindo parceria para construir o Cejak. Foi uma coisa que acabou acontecendo com a parceria de muitos empresários.

COM QUEM A SENHORA MORA?
Eu moro quase que em uma comunidade. Moro com todos os meus filhos e netos.
Me casei três vezes; esse é o meu terceiro casamento - e último!

PARA QUE SERVE O CENTRO DE TRIAGEM E QUAIS BENEFICIOS ELE TRAZ PARA A COMUNIDADE?
Hoje em dia a triagem traz muitos benefícios para a comunidade, temos muitos trabalhos de atendimento. As crianças começam a ser atendidas recém-nascidas na Vovó Belinha, passando para o SASE, depois para o PROJOVEM.
Hoje em dia ninguém pode dizer que não tem opção, não tem opção quem não quer, porque com todas estas possibilidades as crianças e jovens estão muito bem amparadas.


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